
Desceu em Belford Roxo
De um ônibus que vinha de Vilar dos Teles
Sua pele era de feijoada
Mas seu cabelo era puro trigo.
Sua pele era de noite
Mas o seu cabelo era o horizonte de tardinha.
Falsa britânica
Nórdica preta
Africana de cabelo pintado entre o castanho e o dourado
Zulu disfarçada de branca.
Entrou na padaria
Pediu um refrigerante
E cruzou suas grossas coxas
Debaixo de um curtíssimo jeans rasgado.
A rapaziada toda olhou e babou
Ela toda no pensamento
Imaginando estar no século retrasado
E possuir aquele território à revelia
Que parece ter saído de uma letra
de Benjor ou Melodia.
Bebeu tudo numa só golada
Pagando a conta
Saiu não só levando
O louro e duro cabelo entrançado
Acima do sorriso amarelo
Mas também o olhar de todos nós
Entre aquele busto
Que eram dois maduros jamelões gigantes
Embaixo daquele vermelho sutiã.
Sumiu entre pagodeiros e funkeiros
Entre credores e devedores
Entre viajantes e farofeiros
Entre pequenos empresários e vendedores.
Ela saiu do nada
E foi com tudo para qualquer lugar
Tomando seu sorvete demais
Deixando em sua língua
Que nos banhava em sonho
O sabor daquele morno verão.
Marcio Rufino
Muito bom, meu caro!Um fotografia ideal que só pode ser vista por quem sabe como é interessante o subúrbio. Uma cena bem retratada!
ResponderExcluirParabéns!
Um belo e pitoresco poema,Marcio!Adorei!Bjs,
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