FOLHA CULTURAL PATAXÓ

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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

CANÇÕES RECOLHIDAS (Arnoldo Pimentel)


CANÇÕES RECOLHIDAS


Meus olhos já foram vendados
Tenho canções escritas
Que foram recolhidas
E escondidas

Entre medos sob a chuva
Que molhou o telhado
Que dá para o quintal
Que tem que estar sempre desabitado

Simples vida que caminha
Pelos olhares da cidade
Versos que nascem
Do desejo de liberdade

Sonhos algemados
Pelo odor da intranqüilidade
Pela intolerância desmedida
Que castrou nossa mocidade

Parece um simples caminhar
Um simples sorriso
Um olhar para o lado
Mas sempre está no mesmo lugar

Parece que as pernas não se movem
O rosto não é tocado pela chuva
É apenas um mesmo lugar
Que o poder te obriga a ficar

Um grito no ouvido
O som do estampido
Que ecoa no vácuo
Do feto que ainda vai acordar

Virando o rosto pro lado
Para não olhar
O medo que vai explodir
No mesmo lugar

2 comentários:

  1. A sensação de estar na chuva nos traz a impressão de que a alma será lavada e pronta para um renascer ou o nascer do feto que acordará. Lindo espaço.

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  2. Linda poesia! A poesia é mesmo grandiosa, enfrenta os medos mais inquietantes! Grande beijo!

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