Eu morei no
Brooklyn. Morei um bom tempo no Brooklyn. Tenho muitas fotos dessa época. Fotos
das esquinas e com amigos que convivi. As fotos são todas em preto e branco.
Gosto de fotos em preto e branco, acho que são mais reais, mesmo sabendo que
talvez a realidade seja melhor na paisagem da lua. Tenho fotos de pessoas com
sacolas atravessando a rua e fotos nos bares com amigos e nossas cervejas. Às
vezes eu ficava perto da ponte, são muitas pontes, mas havia uma ponte
diferente, era a ponte sobre as águas na parte do rio perto da curva onde
enterram corações, onde enterram histórias e astronautas doidões. De um lado do
rio ficava a estação de trem, parecia a estação onde se tocava gaita, de tão
isolada que era. Do outro lado ficava a parada do ônibus que partia às cinco da
manhã para Manhattan e só retornava as sete da noite. A parada do ônibus ficava
na porta do bar onde eu e meus amigos bebíamos nossa cerveja ouvindo Joan Baez
e declamando poesia. Numa noite dois parceiros cantaram uma música de autoria
deles: "Ela é minha Joa Baez, Eu
sou Bob Dylan dela". É a última lembrança que tenho do bar na parada do
ônibus, do tempo que eu não sei se volta mais.
Eu morei no
Brooklyn tantas vezes que nem lembro mais. Ainda passeio por lá algumas vezes,
mas não tiro mais fotos, agora é tudo em cores e as fotos não são reais.
Arnoldo Pimentel
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