FOLHA CULTURAL PATAXÓ

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sábado, 11 de agosto de 2012

ALI PERTO EXISTE UM RIO (Postagem do dia dos pais)


ALI PERTO EXISTE UM RIO
 Autor: Arnoldo Pimentel


O jantar está na mesa – Disse a mãe

A família sentou para o jantar, pai, mãe e o casal de filhos. A casa ficava num bairro da pequena e acolhedora cidade.

- O cheiro está ótimo, não é crianças? Disse o pai.
- Está papai – Respondeu os filhos, o menino tinha uns 8 anos e a menina uns 7 anos.
- Vamos agradecer a Deus – Disse a mãe.
Todos abaixaram a cabeça e fecharam os olhos, o pai fez a oração agradecendo a Deus o alimento e por estarem ali, depois começaram o jantar.
- Pai, contaram na escola que o senhor estava na praça falando alto, para as pessoas – Disse o menino.
 - Eu soube aqui, antes das crianças chegarem da escola, o que houve? – Perguntou a mãe.
- Mulher, eu falei para ouvirem, e alguns irmãos ouviram, sobre nossos direitos.
- Eu tenho medo pai – Disse a menina
- Pare com isso, eles podem tudo – Disse a mulher ao marido.

O homem ficou em silêncio, olhou pela janela da sala, a noite estava clara, a lua cheia iluminava tudo, até a estrada de chão que se perdia no fim do olhar.

- O cachorro está latindo, alguma coisa vai acontecer- Disse a mulher.
- Não se preocupe, os tempos são outros – Disse o marido.
- Não são – Disse a mulher.
- Não podemos ficar quietos, temos que lutar por nossos direitos – Disse o marido.
As crianças terminaram o jantar e ficaram no chão brincando.

- Eles parecem achar que não nascemos na claridade do dia, que somos noite, que não somos iguais, mas somos iguais – Disse o marido.

- Eu quero muito ir embora daqui – Disse a mulher.
- Aqui é nosso lugar, os ventos da primavera estão chegando e com eles a liberdade, a igualdade, todo esse quadro que existe mudará – Disse o marido.
- Um dia todos poderemos viajar sentados no ônibus, não seremos obrigados a viajar em pé, um dia vamos andar nas calçadas, seremos aceitos e respeitados como qualquer cidadão, como qualquer pessoa - Continuou o marido.
A mulher olhou para ele, triste e disse:

- Isso não vai mudar, isso nunca mudará.
- Está tão claro lá fora – Disse o menino.
- É a lua – Disse o pai
As crianças levantaram e foram até a janela.

- Vi uns vultos brancos lá fora – Disse a menina.
O menino chegou na janela, olhou para fora, virou e chamou:
- Pai, mãe.
- Fala meu filho – Respondeu o pai.
O menino soluçou e disse baixinho:

- Tem uma cruz lá fora, perto da varanda, pegando fogo.

Arnoldo Pimentel

27 comentários:

  1. Linda homenagem!

    Grande abraço e um Felz dia dos pais!

    Leila Rodrigues

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  2. Que beleza.Arnoldo!!Profunda e linda!!!abração,chica

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  3. O encontro da família no jantar é sempre cheio de interpretações curiosas Arnoldo.Que será que o menino viu? retaliação ou a lua refletindo na varanda?
    gostei muito e fiquei a pensar...
    um abraço Arnoldo
    bom domingo dos pais ou dos filhos? ou só mais um bom momento comercial?

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  4. Muito bom, meu caro amigo!
    Um ótimo dia dos pais para todos nós!

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  5. Feliz dia dos pais , poeta!

    Esse texto me lembrou:


    Epigrama

    Que falta nesta cidade?... Verdade.
    Que mais por sua desonra?... Honra.
    Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.

    O demo a viver se exponha,
    Por mais que a fama a exalta,
    Numa cidade onde falta
    Verdade, honra, vergonha.

    Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio.
    Quem causa tal perdição?... Ambição.
    E no meio desta loucura?... Usura.

    Notável desaventura
    De um povo néscio e sandeu,
    Que não sabe que perdeu
    Negócio, ambição, usura.

    Quais são seus doces objetos?... Pretos.
    Tem outros bens mais maciços?... Mestiços.
    Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos.

    Dou ao Demo os insensatos,
    Dou ao Demo o povo asnal,
    Que estima por cabedal,
    Pretos, mestiços, mulatos.

    Quem faz os círios mesquinhos?... Meirinhos.
    Quem faz as farinhas tardas?... Guardas.
    Quem as tem nos aposentos?... Sargentos.

    Os círios lá vem aos centos,
    E a terra fica esfaimando,
    Porque os vão atravessando
    Meirinhos, guardas, sargentos.

    E que justiça a resguarda?... Bastarda.
    É grátis distribuída?... Vendida.
    Que tem, que a todos assusta?... Injusta.

    Valha-nos Deus, o que custa
    O que El-Rei nos dá de graça.
    Que anda a Justiça na praça
    Bastarda, vendida, injusta.

    Que vai pela clerezia?... Simonia.
    E pelos membros da Igreja?... Inveja.
    Cuidei que mais se lhe punha?... Unha

    Sazonada caramunha,
    Enfim, que na Santa Sé
    O que mais se pratica é
    Simonia, inveja e unha.

    E nos frades há manqueiras?... Freiras.
    Em que ocupam os serões?... Sermões.
    Não se ocupam em disputas?... Putas.

    Com palavras dissolutas
    Me concluo na verdade,
    Que as lidas todas de um frade
    São freiras, sermões e putas.

    O açúcar já acabou?... Baixou.
    E o dinheiro se extinguiu?... Subiu.
    Logo já convalesceu?... Morreu.

    À Bahia aconteceu
    O que a um doente acontece:
    Cai na cama, e o mal cresce,
    Baixou, subiu, morreu.

    A Câmara não acode?... Não pode.
    Pois não tem todo o poder?... Não quer.
    É que o Governo a convence?... Não vence.

    Quem haverá que tal pense,
    Que uma câmara tão nobre,
    Por ver-se mísera e pobre,
    Não pode, não quer, não vence.

    Gregório de Mattos e Guerra (1633/1696),

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  6. Está mais para retaliação do que brilho da lua na varanda Lis.... Coisas feias que aconteceram e ainda acontecem em diversas instâncias... preconceito...
    Muito bom Arnoldo!!
    Passei lá no teu blog!!
    Bjs

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  7. Num bairro da pequena
    E acolhedora cidade, numa casa
    Uma família se sentou à mesa
    Lá perto um rio ficava
    Era noite de lua cheia!

    Que os pais e os filhos se juntem
    Se possível for, todos à mesma mesa
    para comemorarem esse dia.
    Todos os dias são dias do pai, da mãe
    e dos filhos, mas para cada um há
    um dia especial, amanhá é o seu e o meu!
    Boa noite e um abraço
    Eduardo.

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  8. Olá, Amigo. Uma bela homenagem Arnoldo! Um feliz domingo. Grande abraço carinhoso. Gostei muito desse outro espaço!

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  9. O pai herói, o pai presente, o pai ausente ,mas sempre serão pais.
    Um lindo Dia dos Pais para ti. Bjs

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  10. Boa tarde, Arnoldo.Obrigada pelo seu comentário no meu blog.
    Se você for pai, tenha um dia muito feliz que não seja hoje somente, e sim todos os dias de paz, diálogo e reflexão.
    Reflexão que vi nesse texto.
    Fez eu ler e reler e sei que cada qual interpreta de um modo.
    Acredito que não tenha sido a lua a brilhar e sim uma maldade para calar a boca do pai que reinvidica os seus direitos, que luta, assim como Jesus Cristo, que sempre gostou e pregou a igualdade e justiça!
    Tudo de bom, sempre!
    Beijos na alma!

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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  12. Belíssima homenagem.
    Deixei uma resposta ao teu comentário no PALAVRA DE MULHER.

    Um dia dos pais pleno de novas gerações.

    Beijos,

    Anna Amorim

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  13. Os ventos da primavera estão chegando... linda homenagem. Tocante como tudo o que faz.
    Um xero meu querido e feliz Dia dos Pais!!!

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  14. Feliz dia dos pais!!!

    Amigos todos convidados para a homenagem ao dia dos pais na página no Facebook: Para curtir:
    http://www.facebook.com/AmorAcordadoBlog?ref=hl

    Beijos!!

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  15. Lindo, comovente e muito profundo... dificil sair daqui sem levá-lo comigo... Me fez lembrar também de tempos bons, tempo me que as familias sentavam-se juntas à mesa... mesmo onde a dor, ainda se pode sentir um amor assim, enorme! Magia da luz, da lua... de Deus.

    Abraço moço!

    Su.

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  16. Amigo,
    um conto familiar *bonito" por isso mesmo, lembra-nos a infância como era costume todos reunidos à mesa. Um pouquinho de mistério ...
    Não percebi o finalzinho...
    o que era a cruz?
    A maioria entendeu, mas sou franca, todo o relato me envolveu muito e...O final? Fiquei pensando (?
    Se é profundo, é sim; mas o significado da cruz pegando fogo...
    Por qual motivo a mulher tinha tanto medo?
    Ah, eu penso q viajei...
    Beijo.

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  17. Ola.... Poeta...amei o conto!!
    Feliz dia dos pais..obrigada pelo carinho de sempre...

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  18. Arnoldo,que conto mais lindo e comovente sua msg!Bela homenagem aos pais!bjs e boa semana!

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  19. Como é triste o preconceito! O poema que Julio Machado transcreveu, de Gregório de Mattos e Guerra, é sublime. Pensa-se que os tempos mudaram, mas só quem sofre na pele a dor da rejeição sabe que os homens ainda têm muito a aprender sobre igualdade. E não são as Cartas Magnas que lhes trarão luz.
    Parabéns pelo conto! Bjs.

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  20. Arnoldo,
    muito linda a homenagem aos pais e repleta de sensibilidade.
    A questão do preconceito é seríssima e muito bem colocada por ti neste belíssimo conto.
    Feliz dia dos Pais, mesmo que atrasado.
    Beijos!

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  21. Olá Arnoldo
    Lindo conto, acredito que não estou atrasada, porque todos os dias é dia de pai e de mãe, parabéns! Um abraço!

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  22. Maravilhosa história de exemplo
    contado.
    É preciso acrreditar e não temer
    a vida.
    Belíssima homenagem ao dia dos pais

    parabéns

    bjs

    Livinha

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  23. Oi Arnoldo
    Vim te visitar porque gosto de visitar blogs, mas não ao léo, porque vi seus comentários em blogs de amigos, achei muito legal, vou te seguir. Gostei do texto, adoro quem se importa com cultura, acho que um país sem cultura é facilmente manipulado, acho que podemos nos dar bem, pois tenho um filho de onze anos que é músico, falo muito dele no meu blog. Enfim, como eu disse, a cultura deve ser divulgada, valorizada. Parabéns pelo blog.
    Bjos. Fique com Deus!

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  24. Olá Arnoldo,
    O preconceito é uma praga a devastar a humanidade.
    Você, em seu conto, mostra a dura realidade de quem ainda vive enfrentando este tipo de postura onde uns se acham diferentes dos outros, como se não fôssemos criados todos pelo mesmo Deus.
    Linda postagem, amigo.
    Grande beijo,
    Maria Paraguassu.

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  25. Arnoldo, os seus textos mexem com quem os lê...
    Acreditemos nos ventos da primavera, sempre, e que eles tragam a igualdade e o respeito pelo proximo.

    Um prazer lê-lo!
    bjs
    cvb

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  26. ARNOLDO vim aqui te ler e como você escreve contos bem, pena que eu queria saber o resto, mata-me a curiosidade, aliás vi as duas postagens acima falando de eventos e fiquei com água na boca, onde moro não tem nada disso não, beijos Luconi

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  27. Nossa Arnoldo.

    Este conto é maravilhoso, um misto de medo e emoção que toca o coração.

    Um lindo domingo
    bjs

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