ALI PERTO EXISTE UM RIO
Autor: Arnoldo Pimentel
O jantar
está na mesa – Disse a mãe
A família
sentou para o jantar, pai, mãe e o casal de filhos. A casa ficava num bairro da
pequena e acolhedora cidade.
- O
cheiro está ótimo, não é crianças? Disse o pai.
- Está
papai – Respondeu os filhos, o menino tinha uns 8 anos e a menina uns 7 anos.
- Vamos
agradecer a Deus – Disse a mãe.
Todos
abaixaram a cabeça e fecharam os olhos, o pai fez a oração agradecendo a Deus o
alimento e por estarem ali, depois começaram o jantar.
- Pai,
contaram na escola que o senhor estava na praça falando alto, para as pessoas –
Disse o menino.
- Eu soube aqui, antes das crianças chegarem
da escola, o que houve? – Perguntou a mãe.
- Mulher,
eu falei para ouvirem, e alguns irmãos ouviram, sobre nossos direitos.
- Eu
tenho medo pai – Disse a menina
- Pare
com isso, eles podem tudo – Disse a mulher ao marido.
O homem
ficou em silêncio, olhou pela janela da sala, a noite estava clara, a lua cheia
iluminava tudo, até a estrada de chão que se perdia no fim do olhar.
- O
cachorro está latindo, alguma coisa vai acontecer- Disse a mulher.
- Não se
preocupe, os tempos são outros – Disse o marido.
- Não são
– Disse a mulher.
- Não
podemos ficar quietos, temos que lutar por nossos direitos – Disse o marido.
As
crianças terminaram o jantar e ficaram no chão brincando.
- Eles
parecem achar que não nascemos na claridade do dia, que somos noite, que não
somos iguais, mas somos iguais – Disse o marido.
- Eu
quero muito ir embora daqui – Disse a mulher.
- Aqui é
nosso lugar, os ventos da primavera estão chegando e com eles a liberdade, a
igualdade, todo esse quadro que existe mudará – Disse o marido.
- Um dia todos poderemos viajar sentados no ônibus, não seremos obrigados a
viajar em pé, um dia vamos andar nas calçadas, seremos aceitos e respeitados
como qualquer cidadão, como qualquer pessoa - Continuou o marido.
A mulher
olhou para ele, triste e disse:
- Isso
não vai mudar, isso nunca mudará.
- Está
tão claro lá fora – Disse o menino.
- É a lua
– Disse o pai
As
crianças levantaram e foram até a janela.
- Vi uns
vultos brancos lá fora – Disse a menina.
O menino
chegou na janela, olhou para fora, virou e chamou:
- Pai,
mãe.
- Fala
meu filho – Respondeu o pai.
O menino
soluçou e disse baixinho:
- Tem uma
cruz lá fora, perto da varanda, pegando fogo.
Arnoldo Pimentel