FOLHA CULTURAL PATAXÓ

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sexta-feira, 27 de outubro de 2017

BATALHA DO PACÍFICO

A BATALHA DO PACÍFICO

A BATALHA DO PACÍFICO

         O avião pousava no meio da rua. A rua era comprida e larga. Quase não havia casas. Eu costumava ficar na calçada da farmácia e de lá podia ver quando fazia a curva próximo da serra. Nesse momento eu saía correndo com os braços abertos como se estivesse num voo rasante sobre meu alvo numa batalha e ia, com os outros garotos da minha idade ver o pouso de perto.
          Depois de pousar o piloto agradecia os aplausos, nos abraçava e seguia para a padaria para tomar um café e conversar. Nós ficávamos ali, perto do avião, olhando todos os seus detalhes, esperando a hora de levantar voo. Era um avião daqueles usados na segunda guerra pelos americanos. Um avião com suas glórias e seus pecados. Um avião com seus sonhos e seus pesadelos.
          Eu gostava tanto que perturbei um vizinho que trabalhava com madeira até aprender fazer pequenos aviões. Fiz uns cinco aviõezinhos  de madeira e brincava com eles na varanda da casa onde morava. Tinha voos rasantes e terríveis batalhas aéreas.
         Um dia a rua foi diminuindo, muitas casas foram nascendo e o avião que ali pousava desapareceu, assim como meus aviões de brinquedo, que foram sendo deixados de lado conforme o tempo passava e eu crescia.
         De repente me vi numa batalha muito pior, muito mais difícil que aquelas aéreas no tempo de criança, mais real que Memphis Belle ou os filmes de batalhas aéreas com John Wayne, Gregory Peck ou Clark Gable, aquela que todos nós enfrentamos um dia, a batalha da vida. A batalha que por mais que façamos, por mais que lutamos, com lágrimas ou sorrisos, com chegadas ou partidas, com flores raras ou flores simples, daquelas lindas, colhidas em qualquer jardim, um dia chega ao seu fim.
Autor: Arnoldo Pimentel

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