FOLHA CULTURAL PATAXÓ

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sábado, 24 de dezembro de 2011

O Dia Escuro





Na manhã estranha
De tardes tacanhas
Saio com o dia escuro
Embaixo de nuvens negras
Entre as luzes ainda acesas.

No infinito ainda o reflexo
Da queda do último relâmpago.
As marcas da tempestade
Que escureceu todo meu âmago.

Nada impede que eu ande
Entre casas sem muros
De mármores escuros.

A ventania soprando mundo afora.
Talvez eu quisesse ter alguém
Do meu lado agora.

Na primeira esquina
Cruzo com o sorriso aberto
De uma criança escura
Que clareia toda a rua
Que esclarece toda dúvida.

Ninguém sabe o que se passa dentro dos aviões,
Dos carros, ônibus e caminhões
Que param e passam,
Que dão passagem e atropelam,
Passam por cima e salvem
E deixam morrer na estrada molhada de chuva.

Nem por dentro da cabeça das pessoas que não sabem
Que o sorriso largo da criança
Perante o dia escuro
É tão contraditório
Quanto o vôo da ave de rapina
Pelo céu e mar limpo
Entre o sol mais que vivo.

Dias escuros, noites claras,
Manhãs violentas, tardes lentas.
Amores aflorando, ódios sangrando,
Corpos transando, cabeças rolando.

E o dia escuro cresce.
Assim ele aparece.
Assim ele se determina.
Assim ele domina.

O olhar dos que vêem seus filhos
Irem à escola em capas que os protegem da chuva,
Mas não do frio.
O olhar dos adolescentes mortos de tédio.

A perda da vida das cores das tintas.
O triste impulso sem graça do céu cinza.
O fraco aspecto de ternuras sem carícias.
os cruéis detalhes das últimas notícias
Dos jornais, das revistas, nas bancas, livrarias.

A velha que escorrega
Caindo na lama.
Os corpos que batalham
Desejando ainda estar na cama.

Comanda os pensamentos poluídos dos homens do mal
Que guardam o sexo na cabeça e as idéias no pau.
O fundo do coração das moças de mente vazia
Que fazem bebês assim como fazem comida.

A teimosia das aves que não se cansam de voar.
A bravura das árvores que insistem em respirar.

Talvez o mistério da noite venha esconder o medo no olhar.
Mas a realidade é má e tão fácil não irá nos desvencilhar.

E o negro do sorriso da besta
Cobrirá o branco da lua,
Como a urina do bêbado
Escorrendo da calçada para rua.

Se é doce morrer no mar
É amargo morrer no asfalto
Não vale morrer de enfarte
Depois de escapar do assalto.

Nos móteis, os debates de ego
Que se fingem de sexo
Com certeza se acirrarão.
Só que eles nunca saberão
Que nas minhas mãos está a soluçao
Da limpeza de toda podridão
Que toda mentira possa sujar.

Mas não se percam nas confusas palavras desses versos-pensamentos.
Pois o dia escuro, como um pesadelo,
sucumbirá num só acinte
no despertar do nascer do sol do dia seguinte.

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados.

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